domingo, 8 de julho de 2007

“Beijar o gato entre as orelhas é uma forma de solidão. Lavar a louça às três da manhã, apreciar muito a própria letra, ouvir a brasa comer o papel do fumo no silêncio também. Acreditar nas estrelas que passam com mais pressa. Deitar sozinho. Às vezes deitar acompanhado também. Ter um casaco de lã cinza-escuro que não lava há dois invernos. Acompanhar um seriado(americano). Achar-se inadequado e esquecido ou achar-se bom demais pros outros. Possuir nesse vasto mundo apenas um cabideiro. Beber destilado em copo plástico, esquecer o aniversário da amiga. Ver televisão com fantasma, ouvir rádio desligado da tomada. Conversar em fila, falar alemão, detestar turista, abrir mão de. Viciar em remédio pro nariz, ganhar na loto, guardar papel de presente, saber cerzir, não ser fascinado pela tecnologia, amar gadgets que não sabe usar. Não amar ninguém. Telefonar a cobrar de um orelhão na chuva pra outra cidade, chamar o garçom pelo nome e ser chamado pelo nome por ele. Concordar que o rock morreu. Escrever sem expectativa, confiar no conselho da manicure, escrever cartas, não enviar cartas. Às vezes mesmo enviá-las é uma forma de solidão. Sentar na segunda fila no cinema, botar bebedouro pra passarinho na janela. Dormir com a caneta na mão.”

Trecho do conto “Inseto”, em Dentro de um Livro.

3 comentários:

Anônimo disse...

gostei mt como as frases foram soltas ...e me encaixo em 88% delas, oq foi interessante ler rapidamente e depois devagar e ver que eu sou meio assim, completamente ecletico e louco...beijosssssss

http://noelevador.zip.net
http://vidacretina.zip.net

Carmim disse...

Preciso ler esse livro, foi a primeira ideia que me surgiu após ler o trecho!

Beijos

Anônimo disse...

Sim, concordo com o Girassol! Este livro deve ser lido!
Belo texto!

Bjos
Pri.